sábado, 7 de março de 2009

Nada sobre absolutamente nada

O que você precisa neste dia? Você precisa pensar sobre muita coisa — disse ele a si mesmo quando percebeu que tudo estava ali — tudo está no mundo! — tudo está pronto, poderia repetir incontáveis vezes, mil vezes seguidas — tudo está no mundo e de nada me vale este tudo — mas o que é exatamente este tudo de que tanto se fala? — é a profundeza das raízes das árvores ou são suas cascas, seus frutos que alimentam? — O tudo é o tudo, e isso já basta! — alguém sempre responde. — Contudo, que mais se poderia dizer a respeito do tudo, sem que necessariamente se fale sobre o nada? — O nada na água do rio, o nada na avenida, o nada na casa, o nada na panela — a morte na panela? Dialoguemos então sobre o tudo que nos consome; dialoguemos sobre a vida empresarial; sobre o mundo corporativo; sobre a tarefa dos pedreiros e as atividades das donas de casa, que diariamente se põem a bater tapetes na janela de onde residem no subúrbio da capital; sobre os meninos que correm no colégio e, neste exato átimo de momento, sofrem um forte impacto e perdem seu dente da frente no chão da quadra poli-esportiva.
Vamos dialogar mais — lembrou-se o que lhe foi dito — sim, dialoguemos então, sobre nada daquilo senão o que mais nos interessa: a morte por afogamento, algum bebê importante; a autoflagelação de uma mulher exteriorizada. Entretanto dialoguemos mais sobre o nada desta vez, — lembrou-se de que isso poderia ter sido dito — não como monges budistas que parecem dialogar em silêncio, mas ao contrário, vamos falar sobre o nada em voz alta, pra que ele nos ouça e sinta, mesmo que enganosamente, que está deixando de ser apenas um nada e se tornando alguma coisa — nadinha, nadinha de nada, não vale nada, não é de nada, não sabe nada — mas como não se sabe o nada? — alguém sempre pergunta — apenas porque em muitos momentos do dia desejou estar em contato só com aquilo que se sabe de nada. Entrar em contato com o nada; estar no nada, viver o nada, dizer o nada pra que todos o queiram, nem que só por meia horinha, também; pois poucos já sentiram o nada, e se regozijam nele. Um nada de alimento, um nada a sua volta, nem o vento nem a nuvem, nada de silêncio ou nada de barulho, nada de cigarro, nada de chegar tarde em casa, nada... nada... somente o nada naquele momento de nada. Eu sei nada — poderia muito bem dizer que não sei de nada — mas realmente, sabe-se muito pouco sobre o nada; então, dever-se-ia falar mais sobre o nada sem se importar se não se sabe de absolutamente nada a respeito de nada.

Um comentário:

nan disse...

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(nada a comentar)rsrs