sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O alimento temporal



Mas ainda possui fome

Mesmo hoje um Senhor

E não se vendo mais passar como um dia cria-se ver

Tirou de minhas mãos um momento de brinquedo

E engoliu

Destruiu tudo aquilo que um dia se esperou

Tentativa de escape foi inútil

Fome, na pressa e na preguiça

Consumidor da força capilar

Vilão horripilante ao idoso na calçada

Seca a terra

Pai da esterilidade

Seca a terra sobre pés e os põe em um buraco

Buraco de minhoca

O buraco do qual ninguém pôde passar

Sem passar por tua boca

Boca essa que é feroz

Devora como fera

É como o lobo que comeu o filhote que nasceu

Não se sabe mais o novo

Devourou-o

Roubou o ouro que havia

Comeu a sabedoria que se tinha

E fugiu

(E, ainda assim, Ele é preciso)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Blanco



"Me vejo no que vejo
Como entrar por meus olhos
Em olho mais límpido
Me olha o que eu olho
É minha criação isto que vejo
Perceber é conceber
Águas de pensamentos
Sou a criatura do que vejo
"

sábado, 29 de novembro de 2008

À imagem do cansaço

Enquanto o piano tocava ela corria. Corria por dentre arvoredos e sentia a grama em seus pés. Corria segurando a saia e sorrindo. Mas o piano continuava tocando — música infantil —, pois agora estava na rede e balançava; agora estava no barco e remava, não se sabe pra onde, apenas remava então. Remava para o lugar de onde o piano originava. Apenas ela ouvia?
Remava em direção ao júbilo sonoro, e sem palavra alguma – a música parecia dizer por si só o que ela queria — Queria saber explicar, sem dizer, a alegria das notas. Entretanto não sabia; era preciso correr então, correr para o infinito do som que reverbera sem querer.
Reverbera a imagem da palavra no som: é luz, é perfume e água a refletindo ondulada. É sonho o que não parece existir. É reflexo da imagem na água — é olho aberto: reflexo da labuta do campo — é olho fechado: reflexo da real imagem criadora de vida.


A primeira reticência


...o que foi?... foi representação do que se queria expressar e não se pode; algo se perdeu – moeda dourada lançada no fundo do poço da alma – um desejo pode não se realizar; um pensamento pode não ser tomado por bom o bastante e fenecer...