DIA APÓS DIA, DEPOIS DO MÊS E DEPOIS DO
ANO e depois do outro ano e mais outro e depois era uma década sem que antes
notasse que horas eram.
Nos resumíamos, dormentes, autodopados,
dia à dia, mecanicamente, maltratando alguém quando algo não era como queríamos
na totalidade; futilizando e cultivando a inutilidade, como anestésico ainda
e...
***
sem compromisso, palavra que
comprometesse, valor que pudesse depositar como outrora fizera. Outro valor se
perdera mas no entanto não estava se tornando um bom matador de valores. Pelo
contrário, permitia que os valores fossem maiores do que si próprio em
determinados momentos; consentia que os valores o matassem.
***
A desvalorização das coisas ou o valor
já transvalorado de alguém, de que outro alguém dissera — surgidos não sabia de
quando — modificavam, gradativamente, também o que éramos? Tornando-me
ignorante de mim para os outros? Me vitimando, me armando contra
alguém a quem devia querer bem; e atacar, como que me atacasse a mim mesmo ou se atacasse o
fluxo ininterrupto que me engolia e que me enfurecia sem que eu percebesse a
verdadeira causa.
O que enfraquecia e fazia cair, e fazia
mais uma vez ser idiota e não sentir a grama e não levantar os braços e não
olhar para o lado.
Perdendo visão, o campo desta, o que
ela proporcionava.
E a dormência que era necessária para
subsistir; perdendo o que seria o real sentido do ver. Ver já não bastaria
então. E se ver e se sentir já não era mais preciso... —