sábado, 19 de setembro de 2009

Não esperava



Não esperava pergunta alguma. Não ansiava que perguntasse intensamente sobre nada, que cobrasse sobre alguma resposta difícil e íntima demais. Nem mesmo queria esperar por uma daquelas perguntas gostosas... Não queria, até que surpreendentemente a pergunta sem demora então viesse: ‘Quais são os seus planos para hoje?’... (Planos? planos?)
– seus – quais – amanhã – são – planos – para – hoje – sempre, de repente é um só eco; é uma goela densa, e uma preocupação. Úmida, cai lentamente mostrando uma expectativa ainda maior, por duas orelhas estranhas, agudas em uma relação diferente, sobre uma curiosidade que parece que vai demorar a morrer, mas que rapidamente pode — pela emoção, pela vergonha, pela lentidão em ser correspondida ou pelo quê? — Não, pois dependendo de quem vem, não é mais uma interrogação, mas sim uma bala, um projétil que trespassa a cabeça, atravessando o que foi feito e o que se quer e o que se poderia; o que se desejaria fazer rapidamente ou se passar meses inteiros tentando concluir, e que, depois de acabado, valesse tanto que voltasse futuramente pelos olhos de quem perguntou.”