sábado, 29 de agosto de 2009

Num único dia marrom



SÓ SEI QUE QUANDO DEI POR MIM, já estava pego. O dia me pegou e nem percebi; foi instantâneo, fugaz: o dia me pegou e só em seguida me peguei pegando o dia. Fui claro, foi breve; fui fácil, foi simples. Nosso contato se deu sobre a terra úmida; ainda sobre suas mãos macias e frutíferas que me deram o tom de sua profundidade escura; em seguida, a fosforescência clorofilada de que sempre ansiei brotar, ser feliz e lembrei-me da boca brilhosa da mulher que não queria amar nada que lhe fosse gratuito, e eu parecia querê-la como se tivesse escolhido o caminho tortuoso de falar na multidão estando nu. Descobri que a minha confusão era objeto de diversão; provia o divertimento resoluto através de mim! parecendo que faltou intensidade, que ali não caberia a verdade e amar a cor de um dia do qual nunca possuí totalmente, ter a cara de um único dia na certeza de que nunca o possuirei por completo. Sempre apenas em alternância, apenas a cada temporada isolada.

sábado, 8 de agosto de 2009

— a predisposição, o espaço,

Quis recostar a cabeça e fechar os olhos como se não tivesse culpa alguma no mundo. E manter de uma maneira fácil o que tanto era necessário manter. Em um salto grandioso que acontece, se percebe que não se pertence mais: não se é do homem, não se é do tempo, não se é das palavras sábias de ninguém. De um momento para o outro aparece a noção de que ontem, hoje e amanhã são na verdade uma pessoa que, em pé, teme se entregar, não conseguindo ser o que acha que é. (E só queria ser a respiração, o livre caminhar pela calçada, sem sonhar e sem saber, mas que entretanto se vê forçado a ser a cidade, que é feita de pedra da mesma maneira que o chão, rufando e recebendo). O que ainda pensaria ser, e o que ainda pensaria em ser, se lhe fosse apresentado, como novo e possível, um caminho breve que portasse o esquecimento, engolindo o que só se queria debaixo de chuva. Só não crendo no possível para não acreditar no que sentia. Contra a disposição e o cansaço de uma luta de quem nem mesmo lembra o que faz e por que faz, de tanto repetir “isso é preciso”. Quem sabe a ligação não devesse ser necessária nunca mais e o que se constituía em uma visão anterior fosse completamente solto e independente da visão que ainda viria; e não mais necessitasse de fins e nem de uma continuação, e a interrupção lhe passasse a ser definitivamente cultuada, como um ritual sagrado. Ficaria presumível sem poder deixar o branco, o espaço reservado, a lacuna... o espaço.

sábado, 1 de agosto de 2009

Se não se diz



Porque não 'se dizer alguma coisa' parece ser tão atraente quanto ao 'se dizer': onde então se ocultava a clareza de uma sinceridade?, ela que, buscada, se perdia na penumbra de uma esquina na rua da casa, às 19 horas numéricas de não condescendência com o que se diria. Pois se o dizer seria uma arte, o não dizer seria o quê? seria...