Quis recostar a cabeça e fechar os olhos como se não tivesse culpa alguma no mundo. E manter de uma maneira fácil o que tanto era necessário manter. Em um salto grandioso que acontece, se percebe que não se pertence mais: não se é do homem, não se é do tempo, não se é das palavras sábias de ninguém. De um momento para o outro aparece a noção de que ontem, hoje e amanhã são na verdade uma pessoa que, em pé, teme se entregar, não conseguindo ser o que acha que é. (E só queria ser a respiração, o livre caminhar pela calçada, sem sonhar e sem saber, mas que entretanto se vê forçado a ser a cidade, que é feita de pedra da mesma maneira que o chão, rufando e recebendo). O que ainda pensaria ser, e o que ainda pensaria em ser, se lhe fosse apresentado, como novo e possível, um caminho breve que portasse o esquecimento, engolindo o que só se queria debaixo de chuva. Só não crendo no possível para não acreditar no que sentia. Contra a disposição e o cansaço de uma luta de quem nem mesmo lembra o que faz e por que faz, de tanto repetir “isso é preciso”. Quem sabe a ligação não devesse ser necessária nunca mais e o que se constituía em uma visão anterior fosse completamente solto e independente da visão que ainda viria; e não mais necessitasse de fins e nem de uma continuação, e a interrupção lhe passasse a ser definitivamente cultuada, como um ritual sagrado. Ficaria presumível sem poder deixar o branco, o espaço reservado, a lacuna... o espaço.
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