sábado, 16 de janeiro de 2010

Sabia do sumir quando era / sabia pelo espaço ficado.




Ficava um assento livre pedindo. Um assento livre e construtivo. Este assento, pensava, é livre porque é senhor de si? É plano liso que escapa, que escapa de muitas coisas. Brilha demais esta desocupação quase que total; sim, quase, por ser preenchida por uma criação instantânea da vontade. Preenchido e perdido em seguida. O que se cria no sumiço é muito mais que uma tragédia, muito mais que uma aventura, se cria uma trajetória longa e às vezes dolorosa, que perpassa a privação e o querer mais uma vez. O sumiço, quando acentuado, se torna, vê-se fácil, um buraco na parede, que mostra o poder.

(...)

Desperceber virou sinônimo de carecer, e carecer virou antônimo de uma rememoração particular que está contida no assento vago que tornou desacentuado o motivo de estar. Ficar com sumiço, com ausência, passou a se tornar uma relação de amantes que nunca se viram até a noite anterior, até se deitarem ali. Isso é o que também mostra o buraco aberto enquanto dormia; ele exibe um casal que fora forte e feliz, até que amanhecesse... Mostra o que aconteceu, deixa ver o que agora foi, permite olhar o que agora é.


O rombo cáustico, que apresenta o que veio do posterior e o que viria do anterior dos acontecimentos. Um buraco na parede e a força de um casal desconhecido. O quanto mais caberia no sumiço, dentro da falta.

domingo, 3 de janeiro de 2010

... descansar no que, repousar aonde...





O corpo sempre pede, a carne sempre pede, a cabeça sempre pede. E o que pede o espírito? O que pediu a mulher de palavra que morreu de câncer, de ferida na perna, e o homem que morreu sem ver? O que pedia a mulher que me criou há anos sem mim, e que, também, pude criá-la sem ela? Criá-la foi duro, mais do que me criar, imagino. Mas isso tudo é história longínqua, distante daqui, que não remoça...