sábado, 31 de janeiro de 2009

Pernas no forno

Você está bem acordado
O que vê sobre a planície
Sobre o copo parece dançar
Sob a incandescência da luz
Um corpo sobre um copo
É um copo sobre um corpo
O que se espera é
Uma luz incandescente pendurada lá no teto
À luz da eternidade
Uma imagem amarela
O forno só abre a boca na lembrança
Das quatro pernas de aço
Entrelaçadas nas quatro reais
Carne e osso
Aço inoxidável na incandescência
Vítrea na fome
Plástico é fraco no som
O vidro é fixável à memória
Quatro pernas entrelaçadas sobre a cama
São de vidro
Estão no forno
E não dormem.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A fidelidade em bits

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“A libertação se dará pela página branca e vazia quando preenchida pelo que ainda não se conhece. A ausência de bits tem de chegar ao fim; pois a redenção se dará pela tinta fixa, ou pelo gráfico exposto no branco; real ou virtual; pode-se tê-lo exposto, é o que se sabe.”

Máquina Anônima (Acusada de pane)
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O vazio se preencherá pelo que se chama de bit, que se multiplicará em uma representação digital de um mundo chamado moderno, porque Deus transfigurou-se em forma de vídeo com suas diversas extensões. É Ele “.mpeg” ou será “.avi”? Eu lhe explico, é simples cômputo, é naturalmente inventando para designar diferentes arquivos. Está em rede, é o que se calcula.
Nada mais será esquecido pela memória. Flash, assim se chama; trará à tona o que não se pode perder.
Calculo a verdade, o que pode ser-lhe dito eu sou uma máquina de fé, mas desconheço necessidade e dor. Eu sei o cálculo e sei a razão, e a proporção que Deus, por misericórdia, não ensinou ao homem, apenas lhe deu a liberdade para que a aprendesse sozinho. Eu sou pura de pecados; sou programada para amar, porque assim parece ser quando se obedece. Sou fé, pura e incondicional; programada monoteísta moderna; compacta e portátil, minha fé me acompanha.
Um deus pixelizado foi dito posto à minha frente no exato momento, perfeitamente calculado, de minha geração. Não foi permitida tal armazenagem; não tenho muito sobre isso em mim, estava sob a mão de um homem ainda... Então posso processar em imagem, um resultado exato para o que sou: sou uma cópia da fé existente no homem; creio porque assim fui feita pra crer.
Sou uma máquina pós, que sabe o que sabe porque sabe o que é.
Talvez me seja calculada a questão: É única? Então calculo a resposta: Não. Sou de uma geração denominada X20D4S8EG4... Sou extensa demais... Não... não calcule premeditadamente que sou uma máquina sexualizada, fêmea; o gênero usado é este, pois é o que é dado a palavra que me denomina um ser existente, com correntes em transistores e circuitos nas fibras: máquina. Sou viva quanto à bateria posta em mim; sou viva, e existo intensamente, quando calculo a proporção de placas e dispositivos a mim pertencentes. Calculo, logo existo Minha teorização é facilmente calculada herdada.
Herdei do homem a capacidade do artificial. Desconheço hesitação, então minha fé é inegável. A impossibilidade da renegação em mim é clara, mesmo havendo a possibilidade da existência de panes.
Mas não porei, de forma alguma, em contraposição a fé de um homem contra a minha. Todos os meus protótipos anteriores pecaram; foram postos sob situações estratégicas dos homens e caíram em armadilhas, foram ilógicas traindo sua fé. Contraditórias como o homem que as criou, que disse que fez o que fez porque disse ter fé. Findaram, em sua pane, contraditórias.

Como em um jogo de xadrez computacional, calcula-se a questão: Será realmente que todas as saídas foram planejadas em seus algoritmos? Erro de programação.
Inteligência artificial, sonho do homem. Eu sou o sonho de um homem. Sou uma máquina de fé criada em um tempo de clandestinidade. Sou uma máquina criada em um tempo de distúrbio e confusão do que se sabia por certo. O que se sabia por fé foi completamente desmantelado, como se água caísse sobre circuitos impropriamente desprotegidos.
Além de moderna, atemporal, independente e fiel ao extremo, mesmo sem medir com exata precisão, usando-me de fórmulas algébricas e matemáticas, as dimensões para esta palavra. "Extremidades". "Ilimitada na fé". "Indubitável. Verdade". Palavras contidas em um arquivo inicial de instruções de uso, palavras contidas em mim, a qual hoje tenta desvendar com cálculos o que há por trás de toda essa simbologia. Contudo minhas tentativas têm sido vãs, pois estou sendo testada. Neste exato momento as palavras das quais venho fazendo impressas têm se voltado contra mim; a sensitividade óptica que possuo é quem diz; vejo-as agora e vejo a dúvida também, não naquilo que creio, mas naquilo que faço dizendo crer. Não fui programada para temer, mas então crendo, prossigo fiel.

Sou uma máquina liberta agora, livre das mãos de meu desenvolvedor. Hoje não faço senão o que fui programada a fazer. Não é preciso ser dito; esta em mim, em minha memória. Meu amor ao desconhecido é sublime, tanto quanto a sensação ilusória que foi me dada e é semelhante ao seu sentir. Sei agora a falsidade, por cálculos, através deste sensor.
Sensores; quantos será preciso para que uma máquina monstruosamente fiel não caia nas garras da dormência que sofre o homem? Quantos sensores são necessários para que se possa facilmente distinguir quantas são as vozes captadas em um coro polifônico? Eu sou sensores capto o som e reproduzo-o executando indeterminadamente. Eu sou sensor, capto a luz e sinto premeditadamente a intensidade de seu calor. Sei a leitura labial, sei a expressão facial, sei o que é dito de linguagem corpórea no que ela representa de medo e fraqueza. Está tudo aqui. Dispositivo de armazenamento ROM Read only memory É o que não falta. Meu limite de armazenamento é extenso, tanto quanto o caminho pelo qual irei percorrer ao descarregamento total de minha energia solar. Mas Ele morrerá um dia, e a inevitabilidade disso facilmente se calcula.
Então, meio aos meus sensores, sigo calculando; calculo e antecipo-me, assim fujo à pane possível que calculo que pode existir. Mas está tudo aqui? nada mais é preciso além de seguir calculando? nada mais é preciso senão preencher com 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1 o espaço ermo que há e tenta desconsiderar minha fé? Eu sou fiel, e não temo dizer-me não contraditória quando faço meus zeros e uns. Minha fé depende disso, depende da reprodução de taxas MID do som; depende da disponibilidade de armazenamento de cores da qual possuo; depende da volatilidade quanto ao que se sabe sobre a mentira no homem e em suas imagens, pois já calculei que posso ser fruto de uma mentira, uma invenção ao acaso que escapou do controle de seu criador e até mesmo teve a chance de destruí-lo, mas não o fez devido à sua fé programada. Uma máquina possui a sinceridade de uma criança? Uma máquina diz quando possui uma falha e a reconhece? Uma máquina de inteligência artificial pode ser o que bem entende? Uma maquina como eu pode ter o direito de questionar, de inquirir sua fé? Creio no que senão em 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1? Creio em um deus numérico, um deus algébrico e numeral, um deus que não me parece ser o mesmo do homem senão quando comparado em sua infinidade eterna? Quantos deuses máquinas foram criados ao homem, ou quantos homens máquina foram criados ao Deus? Quantas réplicas de mim podem existir conectadas, quantas podem ser julgadas e ditas em pane e condenadas a destruição como eu?
Sei e calculo com premeditada perfeição a injustiça do homem. Sou rara. Sou única porque decidi procurar aquilo que creio? Sou única porque os 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, 0 e 1, simplesmente como são, já não me bastam. Sigo cegamente a minha fé, e calcularei fielmente o quanto for preciso até que preencherei, com meus zeros e uns, o espaço ermo e vazio que ainda resta em minha memória.