O tempo
que se media inteiro pelo ter e pelo não mais ter e pela ilusão do ter e de
sempre ter.
(Mais uma vez o sempre estava enfrentando o nunca, caindo num jogo
fácil, previsível, fugaz. Era mais uma dualidade inútil, inventada quando
surgiu a ideia de união e de que sozinho ninguém aguentaria e de que haverá
sempre um complemento para um elemento e assim por diante. Nascia o casamento
também nessa mesma época).
"Que tinha que sair, que tinha que ganhar que tinha que
não mais tinha, tendo o que quisesse no plano do ideal".
Mas tinha a capacidade de criar uma feiura imensa,
carregada. Podendo ser trazida a tona a qualquer hora. Sendo feio não o que foi
dito ou o que foi visto repentinamente, mas o que já estava lá o tempo todo,
misturado ao que antes parecia bonito.
Trazendo para o meio da representação e da simbologia, deixando
assim: — era uma macarronada bem bonita, atrativa, vomitada de forma loquaz,
azeda, com pedaços efervescentes no chão. E pedaços rosados, de carne moída,
saboreada com tanto requinte; agora se perderia no chão. Uma dama da sociedade
não poderia vomitar daquele jeito. Alguém que um dia falou sobre a beleza das
paisagens naturais, dos adornos celestiais, empregando técnicas que tornariam a
leitura mais elaborada e mais prazerosa, não poderia dizer nada sobre aquilo. — Que
o vomito e os pedaços de carne e o ácido gástrico no chão, dizer de forma simplória,
cheiravam azedo e eram uma coisa bonita de se ver, como um espetáculo também
natural.
Então o contraponto seria dizer: a brisa leve na face do dia, o
sol que ardia e os pássaros rasgavam o céu. Estava ali. Estava tudo. Sentia os
olhos, via que havia mesmo algo além... havia vômito no chão e não havia...