sábado, 29 de novembro de 2008

À imagem do cansaço

Enquanto o piano tocava ela corria. Corria por dentre arvoredos e sentia a grama em seus pés. Corria segurando a saia e sorrindo. Mas o piano continuava tocando — música infantil —, pois agora estava na rede e balançava; agora estava no barco e remava, não se sabe pra onde, apenas remava então. Remava para o lugar de onde o piano originava. Apenas ela ouvia?
Remava em direção ao júbilo sonoro, e sem palavra alguma – a música parecia dizer por si só o que ela queria — Queria saber explicar, sem dizer, a alegria das notas. Entretanto não sabia; era preciso correr então, correr para o infinito do som que reverbera sem querer.
Reverbera a imagem da palavra no som: é luz, é perfume e água a refletindo ondulada. É sonho o que não parece existir. É reflexo da imagem na água — é olho aberto: reflexo da labuta do campo — é olho fechado: reflexo da real imagem criadora de vida.


A primeira reticência


...o que foi?... foi representação do que se queria expressar e não se pode; algo se perdeu – moeda dourada lançada no fundo do poço da alma – um desejo pode não se realizar; um pensamento pode não ser tomado por bom o bastante e fenecer...