sábado, 14 de março de 2009

Irrequietude

Mas você ainda podia sentir nojo de tudo aquilo, sendo que, na verdade, se encontrava impregnado; tudo parecia tentar fazer parte de você, tudo dali. Esconder-se detrás de você mesmo, como quando se é criança e se esconde amedrontadamente, timidamente, detrás das pernas do adulto, não adiantava mais. A vontade de fugir como um animal arisco e selvagem era tamanha, você, então, podia entender tudo: podia entender sobre o que já se sentiu de selvagem por outros. E a palavra se derrama por toda uma pista, um barril rola do caminhão e estoura — é vermelho e denso o seu líquido que escorre pelas pernas de transeuntes que nem ao menos percebem o que está por debaixo de seus pés. Ninguém sempre dizia: entre um lado e o outro da rua há mais do que se possa imaginar, não são carros que passam, não são motores. No entanto esse ruído todo apenas demonstra o quanto se pode estar só em um meio. Quanto de perigo há em um contato com o denso liquefeito tremor das pernas — não é dramatização, e não é melancolia — é puramente precaução, pois estas nada representam para alguém que não pode entendê-las senão quando se depara com cadeiras espalhadas sobre um vasto salão; seria uma platéia, mas as cadeiras todas estavam vazias. Parece-te que alguém deveria estar ali, alguém deveria estar naquela cadeira? Ou simplesmente todos fugiram como na percepção de um incêndio principiante? Ecoa... Ecoa alguma coisa da qual não se pode distinguir... um berro no longínquo da rua, ... ecoa...ecoa...ecoa o berro no longínquo da rua, mas mesmo sendo noite, não se entende, porque um cão latiu tremendamente no mesmo momento do berro ininteligível.
Ainda existe uma ânsia quando se recosta a cabeça na noite. Ainda existe um pequeno crepitar que se estala dentro de você.

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