Sempre que o dia se inicia daquela maneira, é como se o simples ato de se erguer, de endireitar a coluna, de enfrentar o ar do ártico, que paira sobre o quente, que brota de uma profundeza, fosse uma tarefa dificultosa demais — não existe distinção entre a brutalidade e a preguiça; não existe esforço e resistência ao prazer do contato com o mais íntimo de si consigo mesmo, sabendo que suas próprias mãos, poderiam ser tidas como ferramentas de alívio ao frio e ao calor que se sente ali, reconditamente, e que se confundem na submersão, que guarda e protege todo e qualquer tipo de subversão. Não deveria ter pudor de se saber que às claras das cobertas, uma mente poderia ser temida — tudo como um tipo de vontade que se tem e que se teme; que se tem sem que exista a possibilidade de amenizá-la, e isso impossibilita uma ação de manhã, impossibilita um pulo instantâneo e repentino; impossibilita e imobiliza músculos e articulações, fazendo com que se cubra o rosto, se ponha algo macio sobre a cabeça, e que tudo convirja, silenciosamente, em um único ponto: o ponto da fraqueza no homem, o ponto de controle, o ponto que dispara até a ponta dos dedos a vergonha de se saber, de forma consciente, clara, como se a coberta houvesse sido realmente puxada e as cortinas abertas, de sua condição de animal, animal que, instintivamente, arde, treme, sente e deseja.
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